Desde o final da semana passada, a especulação sobre um possível caso do novo coronavírus foi o principal assunto em Matinha.

A repercussão foi tanta que levou a Secretaria Municipal de Saúde a divulgar uma nota descartando a possibilidade de contágio pelo vírus no município relacionado ao suposto caso.

O comunicado foi feito depois da avalição de profissionais de saúde que receberam um treinamento na Secretaria de Estado da Saúde sobre o novo coronavírus.

No meio de uma enxurrada de comentários e, principalmente, desinformação, estava Maria da Conceição, que voltou da Itália antes do surto de covid-19 no país europeu, e de uma região sem casos confirmados do novo coronavírus.

Depois de muita negociação, Maria aceitou conversar com o Portal Matraca, na manhã desta quarta-feira (18), na casa de um dos sobrinhos em Matinha.

Numa breve conversa, Maria se emocionou, disse que está sendo crucificada e pediu conscientização. Veja trechos da entrevista.

Leia a entrevista completa (fala adaptada para texto jornalístico).

Matraca – Para entendermos melhor, por quanto tempo você esteve na Itália e o que você fazia.

Maria – Eu moro na Itália já há muito tempo, com Pe. Guido e minha madrinha Bruna que me criou. Eu moro com eles e ajudo eles em casa, então eu decidi vir de vez enquanto em Matinha, para passar uns tempos aqui com meus amigos. Então eu decidir e comprei o bilhete no mês de janeiro, ainda tinha (registro do vírus em Sardenha) e ainda não tinha nada relacionado com epidemia. Mas no final de janeiro foi que surgiu essa epidemia na China e depois na Itália. Mas não havia essa preocupação de epidemia, e eu sabia que não ia pegar (coronavírus), por isso fiz minha viagem tranquila.

Matraca – Durante a viagem, você passou por algum procedimento de fiscalização?

Em Cagliari (capital da ilha italiana de Sardenha), eles me colocaram o que parecia ser um papel na mão, para fazer o controle, mas durante a viagem não teve outro processo de fiscalização e nem perguntas.

Matraca – Você disse que veio visitar a família, essa viagem já estava programada ou você decidiu vir devido ao surto da doença na Itália?

Maria – Eu sabia que não havia coronavírus, porque eu não havia condição de ser infectada, porque em Sardenha, da cidade de onde sai, não havia ainda nenhum caso confirmado e em Roma também não. Os casos aumentaram depois que sai de lá, depois de uma semana.

Quando eu cheguei aqui, eu fiquei muito assustada com o povo dizendo que eu tinha coronavírus, eu viajei tranquila, sabendo que não seria infectada, porque não era possível, onde eu passei não havia casos confirmados. Então, as pessoas que não sabem, se informem, vá pesquisar, estudar onde está o coronavírus e em que zona da Itália. Não é possível que a pessoa tão inteligente, como os matinhenses, condenem e crucifiquem uma pessoa (suspira)…

Eu não sou irresponsável, gente. Eu não vinha para Mainha trazer o coronavírus, eu nunca faria uma coisa dessas.

Matraca – Em relação aos comentários, como você recebeu todos eles?

Maria – Eu fiquei muito mal, muito decepcionada, porque as pessoas devem primeiro se informar, saber onde está a doença para depois falarem de mim. Eu não sou uma pessoa que iria correr um risco assim, sem saber a situação, sem saber o risco que correria.

Matraca – Quando se especulou que você, supostamente, estaria com coronavírus, a notícia se espalhou rapidamente, a Secretaria de Saúde divulgou uma nota com o diagnóstico negativo. Como aconteceu essa avaliação?

Havia o comentário na cidade e o médico (Dr. Leonilson) junto com o Secretário de Saúde (José Orlando Cunha Rabelo), me procuraram para uma avaliação, para saberem de onde eu estava chegando e se havia casos de coronavírus e não havia.

Matraca – Como foi essa avaliação?

Maria – Eles me colocaram um termômetro para saber se eu tinha febre ou tosse, mas não apresentei nenhum sintoma, eu estou boazinha.

Matraca – Continua tendo esse acompanhamento?

Maria – Sim, os médicos continuam me visitando na minha casa para saber se eu tenho algum sintoma.

Matraca – Como a senhora recebeu os comentários e como reagiu a eles?

Ainda continuam, os vizinhos mesmo ligam uns aos outros dizendo se eu tusso, o que faço ou deixo de fazer. Oh, gente, eu não tenho nenhum tipo de influenza, não tenho coronavírus e eu estou bem. Eu falo com todo mundo, mas muitas pessoas correm de mim com medo, isso não é normal ou estão doentes da cabeça. Muita gente já correu de mim como se eu tivesse alguma peste ou doença ruim. Isso não é normal, as pessoas devem se informar, ler e procurar saber, Deus está vendo.

Matraca – Que mensagem a senhora gostaria de passar?

Eu gostaria que colocassem a mão na consciência, porque as coisas não são  fáceis assim, como pegar uma doença e levar para outras pessoas, eu nunca faria uma coisa dessas, nunca, como trazer uma doença para a minha cidade. Então povo, eu peço que parem com isso, de me crucificar, sendo que eu não trouxe nenhuma doença para a cidade.

Matraca – Você também participa ativamente da vida religiosa, como tem sido esses dias na igreja?

Maria – Na igreja eu pude ir só uma vez porque me proibiram de frequentar aglomerações.

Matraca – Essa recomendação veio da Secretaria? Sim, me orientaram para que ficasse mais em casa, e estou e estou bem. Mas é muito difícil saber que não posso sair na rua ou falar com amigos, e há também as pessoas que me crucificam e falam mal de mim, está sendo muito difícil ficar sendo controlada o tempo todo.

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