Comunidades quilombolas de Matinha registram ‘boletim coletivo’ contra casos de racismo no município

Comunidades quilombolas de Matinha registram 'boletim coletivo' contra casos de racismo no município
Boletim foi registrado nesta segunda-feira, em Matinha. Foto: Divulgação.

MATINHA – Representantes de 24 Comunidades Quilombolas do município de Matinha, na Baixada Maranhense, se dirigiram à Delegacia de Polícia da cidade para registrar Boletim de Ocorrência contra ofensas racistas praticadas por um munícipe identificado como José Ribamar Dias Alves, conhecido como “Dias”.

Segundo as informações, no dia 10 de janeiro de 2022, “Dias” teria publicado áudios em grupos de WhatsApp com injúria com conotação racista contra as Comunidades Quilombolas do município.

Ouça um dos áudios. Fonte: União das Comunidades Quilombolas do Município de Matinha.

Na época, a União das Comunidades Quilombolas do Município de Matinha (UNIQUIMAT), publicou uma nota de repúdio sobre o ocorrido. “Essa atitude racista é uma manifestação imoral de uma pessoa que não se envergonha em discriminar abertamente as Comunidades Quilombolas e os povos tradicionais. Seguiremos firmes na defesa da vida, da igualdade e luta contra a racismo e injúria racial”, dizia a nota.

O caso foi levado à Polícia nesta segunda-feira (31). Ainda segundo as informações, os líderes das Comunidades Quilombolas disponibilizaram CDs com os áudios e depoimentos dos líderes das comunidades.

“A fala do senhor ‘Dias’ está discriminando a nossa classe. Em primeiro lugar, nós não estamos pedindo nada para ninguém, nós temos os nossos direitos e deveres e, por isso, ele deve respeitar a nossa classe”, disse Isidória, Líder da Comunidade Preguiça Nova.

A reportagem entrou em contato com José Ribamar Dias Alves e aguarda um posicionamento sobre o fato.

Leia, na íntegra a resposta enviada à Redação:

Eu só queria falar para você e para todos, que não foi minha intenção ofender ninguém, mesmo porque não ofendi. Tenho a minha consciência tranquila, muito tranquila porque não ofendi ninguém.

Não ofendi pessoas e não ofendi povoados, apenas dei a minha opinião, uma opinião. Eu disse que não gostava do nome Quilombo, eu disse que não gostava do nome Quilombo, não disse que não gostava de Quilombola, o que é totalmente diferente.

Então, eu mesmo tendo a consciência de que não ofendi ninguém, que não fiz com a intenção de ofender ninguém, eu quero aqui pedi perdão para quem se sentiu ofendido. Eu quero pedi perdão para quem se sentiu ofendido, porque não foi a minha intenção.

Todo mundo conhece a minha luta em prol dos mais necessitados. Eu sou um negro, apesar de nem todo negra ser quilombola. A minha origem é negra, a minha família é negra, o meu povo todo de Matinha é negro, não tem um branco, se tem, é dessas gerações novas, mas do passado não tem.

Então, por que eu teria raiva de negros, de quilombolas? Negativo. Então quiseram procurar chifre em cabeça de cavalo. Eu repito, a minha intenção não foi ofender ninguém, como não ofendi. Se as pessoas ouvirem os áudios ou o áudio em referência com atenção, não há ofensa nenhuma, mas se alguém tivesse se sentido ofendido, eu peço mais uma vez desculpas e perdão. Não foi o meu interesse ofender ninguém.

Se você for capitar bem a mensagem que eu quis passar, foi mais uma revolta em prol das pessoas mais necessitadas. Então é isso as minhas poucas palavras, e quero enfatizar mais uma vez, se alguém se sentiu ofendido, eu peço humildemente perdão, pois não foi a minha intenção ofender ninguém. Um abraço para todos e que Deus nos proteja de todo mal.