Crônica de Zilda Cantanhede: Dezesseis de março

Matinha_Maria Zilda Costa Cantanhede
Maria Zilda Costa Cantanhede. Foto: Reprodução/Redes Sociais.

O dia 16 de março de 2020 é uma data inesquecível para os maranhenses, sobretudo, para os estudantes baixadeiros dos municípios de São Vicente Férrer, Matinha, Olinda Nova do Maranhão, São João Batista e Cajapió, bem como para a equipe gestora, docente e administrativa da Unidade Plena São Vicente Férrer – UP SVF.

Naquela manhã de segunda-feira, o sol parecia mais brilhante e em “tons verdes” cintilava a esperança. Era o primeiro dia de aula para 160 (cento e sessenta) estudantes das primeiras séries do Ensino Médio. Estava tudo pronto. As Diretorias de Ensino e Pesquisa e Planejamento, conduzidas pelos Professores Me Elinaldo Silva e Emanuel Denner, respectivamente já haviam organizado tudo, formação, suporte; o apoio da então prefeita anfitriã, Conceição Castro e sua equipe de gestão.

Tudo novo. Indumentária nova, tênis, sandálias, acessórios, material escolar, tudo novinho em folha. Infraestrura e modelo educacional/pedagógico novo. Nas bagagens dos estudantes as melhores expectativas, afinal adentrar ao Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – IEMA era a realização dos sonhos daqueles adolescentes…

A partir das 7h20min começaram desembarcar na UP SVF, os futuros protagonistas. Para suas surpresas e alegrias, um Acolhimento Especial, feito pelos Estudantes Protagonistas da Unidade Plena de Cururupu, nossa UP Tutora. Rufar de tambores, músicas, danças, abraços calorosos (saudades); uma corrente humana formada pela comunidade escolar, (São Vicente e Cururupu) cujos elos estavam engrenados num só propósito: oferecer uma educação digna e de excelência àqueles principiantes acadêmicos do Ensino Médio e do formato integral e integrado, tecnológico-profissionalizante. Um desafio para todos nós, neste primeiro ano, o da sobrevivência.

Uma fala aconchegante de boas vindas á nova comunidade escolar, conduzida pela Gestora Geral da UP Cururupu, Profa. Ma. Marileide Costa. Atentos á sua fala, e admirados pelo amor expresso em cada palavra e gesto a este modelo revolucionário do fazer pedagógico, que é o Modelo Institucional – IEMA confesso e, creio que cada um de nós, pensávamos: que responsabilidade! Apresentei-me e apresentei a equipe pedagógica e administrativa, que também se apresentaram.

Findado aquele momento indescritível, todos subiram com seus colegas para suas respectivas salas. Lá mais uma surpresa! Quem estava lá? Não eram os professores. Eram os protagonistas de Cururupu, que desde o dia anterior, haviam arrumado as salas com muito carinho e com a “cara” da juventude. Eles passaram o dia todo juntos. Agora de protagonistas para protagonistas, tomaram posse do modelo, e como seria trilhar os itinerários formativos a partir de então… Bateram um papo descontraído. Falaram de seus Projetos de Vidas. Fizeram uma Cápsula do Tempo! Era só felicidade!

Enquanto isso na sala de professores: Planejamento. Muitas perguntas á Equipe Gestora da UP Cururupu, especialmente ao Gestor Pedagógico Nedson Coelho, um expert em sua função. Algumas dúvidas foram dirimidas, outras acrescentadas à medida que nos apropriávamos do modelo, as quais só seriam sanadas na prática.

Na cozinha e nas outras dependências a Gestora Administrativa Geysa Azevedo conduzia o trabalho com as equipes. Limpa aqui, ali, acolá. Divide as porções dos alimentos. Faz o lanche. Serve. Cuida do cardápio para o almoço. Uma hora de um merecido descanso, naquele dia super movimentado, festivo, com muitas aprendizagens e compartilhamentos de saberes e conhecimentos.

Ao encerrar o trabalho do dia, ás 17h, despedimo-nos com um caloroso abraço e, um até amanhã! Tudo preparado para o dia seguinte para recebermos os Projetos de Vidas dos estudantes e reunião com os pais.

No mundo e no Brasil, já se falava de uma doença – COVID 19, causada pelo coronavírus denominado – SARS – Cov 2. Um surto na China, depois epidemia, de repente: PANDEMIA, quiçar uma endemia, mesmo com a vacina! E nossas vidas mudaram radicalmente. Com a primeira morte no Brasil, acendeu-se o pisca-alerta. No Maranhão, a pandemia estava com status de CONTENÇÃO… Contudo, sabe-se que o direito à vida se sobrepõe a todos os outros direitos. Neste sentido, numa atitude plausível, assertiva e responsável do governador do estado do Maranhão, o Senhor Flávio Dino, homologa o “DECRETO 35.660 DE 16 DE MARÇO, que dispõe sobre os procedimentos e regras para fins de prevenção e transmissão da Covid–19, institui o Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Covid–19 e dá outras providências”.

Com o Decreto supra, deveríamos parar tudo! Como assim, parar tudo? Começamos hoje? Pensei: é fake news. Infelizmente, neste caso, não era! Recebi uma ligação impactante da Diretoria, é para parar… Mas… é para parar! Meio tonta, sem saber o quê fazer e dizer… O quê dizer aos estudantes ansiosos – seria o primeiro contato com seus professores – como dizer que no outro dia não estaríamos na escola? Sofrimento! Uma sensação de impotência.

E assim, foi o nosso 16 de março de 2020, dia em que pela primeira vez nas nossas vidas, iniciamos as aulas e paramos no mesmo dia, por conta de uma pandemia! Temos aprendido muito de lá até aqui… porém isso é uma outra narrativa.


Maria Zilda Costa Cantanhede é Acadêmica, membro fundadora e Secretária da Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras – AMCAL; Especialista em Língua Portuguesa e Linguística, Educação do Campo, Educação Pobreza e Desigualdade Social; Graduada em Letras e Filosofia; Gestora Geral do IEMA Unidade Plena São Vicente Férrer; cronista, articulista, revisora de textos acadêmicos, ex Secretária Municipal de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação e Juventude e Mulher de Matinha-MA.