Centenas de maranhenses que vivem na Bolívia pedem a ajuda do Governo Federal ou Estadual para serem repatriados as suas cidades de origem. Nesta quinta-feira (02), o Portal Matraca conversou com Talisson Moraes, natural de São Bento, o jovem estuda medicina em Cochabamba, há mais de um ano.
Em entrevista por telefone, o estudante contou que a situação gerada pela pandemia do novo coronavírus na Bolívia, se comparada com a situação brasileira, é um pouco melhor em relação a quantidade de casos. No Brasil, até a publicação desta reportagem, eram 7.910 casos confirmado e 299 mortes.
Mas por lá, a maior preocupação do estudante é que, ao contrário do Brasil, eles não têm a mesma assistência, como acesso à saúde pública.
“Nossa preocupação aqui, em relação aos estrangeiros que vivem na Bolívia, é a dificuldade se a pessoa chegar a adoecer ou a ficar doente, fica muito complicado porque tudo é pago. Aqui não é como no Brasil que tem o Sistema Único de Saúde (SUS), aqui a pessoa paga até por uma agulha ou algodão que usar”, disse Talisson.
O Jovem também contou o sistema adotado pelo Governo da Bolívia para adotar a quarentena e a recomendação do isolamento social como forma de prevenção ao novo coronavírus. O estudante contou que penas uma pessoa de cada casa pode sair apenas uma vez por semana.
“Foi estipulado que todo cidadão residente ou nacional pode sair apenas uma vez na semana, entre as 07h às 12h. Temos só esse tempo para comprar alimento ou poder ir na farmácia ou abastecer”, contou.
Assim como a Itália, a Bolívia também decidiu aplicar multas para as pessoas que saírem de casa sem autorização.
“Só uma pessoa por casa que pode sair às ruas, e a fiscalização é feita mediante a apresentação da carteira de identidade. Se a pessoa for encontrada andando ou fazendo alguma outra coisa, ela vai pagar uma multa que chega ao valor de mil Bolivianos”, relatou.
Sobre o controle do Governo para fiscalizar, o estudante disse que esse sistema funciona pelo número da identidade, por exemplo, pessoas com o final 01, podem sair na segunda, já com o final 02 podem sair na terça, e assim por diante. Mas isso somente para a única pessoa autorizada a sair de cada residência.
Segundo o jovem, na cidade onde ele mora, Cochabamba, há cerca de 15 pessoas de São Bento. Junto com ele, há dois jovens da cidade de Pinheiro, também da baixada maranhense.
Na entrevista, Talisson disse que quer voltar para casa, e espera a repatriação do Governo Brasileiro. Mas segundo os maranhenses que vivem em Cochabamba ou em outras cidades da Bolívia, o Governo Federal estaria levando os brasileiros só até a fronteira da Bolívia com o Brasil, na cidade de Puerto Quijarro. Mas estes estariam pagando pelas próprias passagens.
Segundo o estudante, ontem (02) saiu um ônibus de Santa Cruz de la Sierra para Corumbá, no Brasil. Mas Talisson conta que ainda não há previsão de ônibus para a cidade de Cotiabamba. A promessa do Governo era levar os brasileiros até Puerto Quijarro.
“O Governo diz que está fazendo repatriação humanitária, mas isso aqui não está ocorrendo. Os valores das passagens estão sendo cobrados, e nossa inquietação é que, muitos brasileiros não estão tendo essa condição porque a viagem é só até Puerto Quijarro”, desabafa.
A preocupação de ser entregue só até a fronteira é justificável. Puerto Quijarro faz divida com o estado do Mato Grosso do Sul, e segundo o estudante, o Governo Estadual fechou todas as viagens intermunicipais e interestaduais, impossibilitando uma possível chegada até o Maranhão.
“Podemos ir de boa até Puerto Quijarro, mas depois de lá nós não sabemos o que fazer, não tem mais voos nacionais e nem transporte por via terrestre”, conta.
Os jovens fazem também um apelo ao Governo do Maranhão para que dê atenção a situação dos maranhenses que estão na Bolívia. O Acre, por exemplo, entrou com um pedido para liberar a entrada de ônibus para poder repatriar os estudantes na fronteira de Puerto Quijarro.
“A gente espera que o Governo do Maranhão nos ajude e ofereça ônibus para a retirada dos cidadãos do nosso estado, e que buscasse formas de facilitar a nossa chegada até os terminais, como fez o Governo do Acre”, explica.
“Nossa preocupação está sendo essa, o custo por passagens está exorbitante. A gente costuma pagar em uma viagem como essa no máximo 200 Bolivianos, e agora está sendo cobrado mais de 500. E o que está saindo nos jornais é que o Consulado Brasileiro está fazendo a repatriação, e isso não passa de uma grande farsa, porque os próprios brasileiros estão tirando do bolso poque estão desesperados para voltarem para as suas casas.
Os estudantes relatam ainda que em breve ficarão sem dinheiro, e os cambistas (pessoas responsáveis pela intermediação do dinheiro enviado), estão cobrando preços exorbitantes. “Estamos vivendo momentos difíceis”, desabafa Talisson.
Nota do Itamaraty
Todos os brasileiros não residentes retidos no exterior estão sendo considerados pelo Itamaraty e continuamos trabalhando, sem interrupção, para que aqueles que ainda estão enfrentando problemas em seu retorno possam se juntar aos 9,200 nacionais que foram repatriados desde o início da crise.
No caso da Bolívia, embora os estudantes não se enquadrem na categoria de não residentes no país, as representações brasileiras estão organizando transporte terrestre, até a fronteira com o Brasil, mediante negociação com as autoridades daquele país, para repatriar os nacionais. No dia 2 de abril, 750 nacionais retornaram de ônibus ao país.
Ressalte-se que não há transporte regular em decorrência da crise provocada pela pandemia. Ainda assim, foi possível organizar transporte extraordinário, mediante negociação com governo boliviano.
Os brasileiros que necessitaram de apoio consular ou informações sobre a melhor forma de deixar a Bolívia devem contatar os consulados e a Embaixada em La Paz. Os endereços e telefones podem ser encontrados na página.
O Itamaraty continuará trabalhando, sem interrupção, para assegurar a volta ao Brasil de todos os nacionais retidos no exterior em decorrência da pandemia.
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